1. Questão de Morte - Questões de Consultório #1 - Cláudio Fernando Costa | Psiquiatria

1. Questão de Morte - Questões de Consultório #1


 

Seus pais vão morrer. A expectativa de vida dos nascidos em 2016 é de 75 anos e meio e pra quem nasceu nos anos de 1950 era por volta de 50 anos, de acordo com o IBGE. E ainda assim é comum em consultório a condição de pacientes com mais de 40 anos que tiveram início ou agravamento de sintomas de ansiedade, como insônia, pânico, dores e medos que se iniciaram há 5, 6, 10 anos, no justo momento em que sua mãe com mais de 60 anos deixava de existir. Trabalhar adequadamente o processo de perda que vem com a morte, doença, traição, demissão, para bem elaborar uma boa resposta de adaptação e seguimento é matéria que deve ser aprendida. As religiões, que poderiam assumir um papel esclarecedor e orientador sobre a terminalidade, o fim da vida, fazem justamente o inverso e enevoam o tema, retirando a responsabilidade da aceitação pela pessoa e promovendo um conformismo através da ideação de uma realidade fantástica futura baseada em provas de fé, que, porém, acabam por não ser suficientes para afastar seus seguidores da dor e dos consultórios. A religião católica, com ritos como missa de 7o dia e comemoração de dia de finados, presta o desserviço de perpetuar a revivenciação do sofrimento, acentuando e mal vivendo o necessário processo de luto. Os espíritas propagam a ideia da esperança de que o fim é um recomeço mas paradoxalmente se esforçam na tentativa de contatar os que se foram, evocando o apego à materialidade, falsamente consolando. Você vai morrer. Optar por tratamentos de alto custo para o corpo ao invés de viver menos dias mas com uma melhor qualidade de saúde é a consequência desse mesmo pensamento limitado e que atinge os que permanecem em vida. Assim, pessoas submetem seus familiares e si mesmas a cirurgias e procedimentos que prolongam uma sobrevida de sofrimento, gerando alto preço emocional nos cuidados para todos, com o estranho conforto do benefício de ter tido sua responsabilidade de decisão deslocada de si e alocada nos médicos ou em um deus. Então, qual o caminho? A visão honesta e crua da filosofia, que não pretende consolar e nos coloca a todos no mesmo patamar da desconfortável sensação frente aos questionamentos universais é o movimento que gera reflexões que podem motivar você a enxergar novas maneiras de lidar com as adversidades do mundo exterior e interior. Enganar a criança dizendo que a injeção “não vai doer nada” é uma maneira de mal educar. Produz insegurança no cérebro da personalidade em formação ao minar a credibilidade do adulto responsável e isso gera consequências para o futuro, com comportamentos de dependência e imaturidade. E finalizando esse vídeo, a dica de filme é O experimento de Milgram, onde se atribui ao psicólogo experimental a seguinte frase: “Você poderia dizer que somos marionetes. Mas acredito que somos marionetes com percepção, com consciência. Às vezes, podemos ver as cordas e, talvez, a nossa consciência seja o primeiro passo para a nossa libertação”.


Cláudio Costa jul/2017